Just as I am — Bill Withers
Just as I am. Um álbum do mês de Maio. Disco este de 71. Tão bom que até John Lennon e Paul McCartney deixaram ser o melhor e, talvez, antes mesmo de começarem a fazer música, culminaram essa ideia. Há boatos de que no inverno os moradores do Harlem colocam este disco para tocar, normalmente nas manhãs de domingo. Todo mundo se arruma para escuta-lo, “like a party”. Quem começou com essa invenção exorbitante foi a avó, que com mãos suaves, aplaudia ao fim de cada canção. Mas hoje ela está no céu e as palmas ficam por conta de outra pessoa, talvez de Wanomi, a garota doce do bairro.
Poeiras aparecem com o tempo na maioria das coisas, mas com esse disco foi diferente, impôs o feeling em seus dois lados, o que impede qualquer cisco de chegar perto. O som da mente de Bill Withers dissemina em cada linha dessa arte e até quando todos estão falando, é impossível atrapalhar. O porquê disso todos sabem, mas ninguém consegue explicar.
É difícil definir o que ouvimos logo de cara, mas uma coisa é certa, o arranjo migra perfeitamente de norte à sul e está longe de ser dissonante. É possível identificar a intensidade em cada nota e em cada timbre da sua voz. Cada gemido é a prova viva e difícil mesmo seria não notar tamanha volúpia. Por mais que ele pense que ficaria melhor morto, quem sente sua música engrandece sua vida, pois não há sol quando ele não está cantando. Ain’t no sunshine.
Assim como os olhos foram feitos para apreciar, o coração foi feito para sentir. Além do tesão em ouvir, a sensação que o disco transmite bate no peito e toca as motivações de qualquer ser que se diz humano. Mais nuns do que noutros, despeja a sua alma sem contenção nos vários elementos que constituem uma canção, transmitindo emoções que, instintivamente, são desarmadas apenas quando é, de fato, sincero. E não há dúvidas.
Uma obra atemporal, irônica e poética com um arranjo perfeito. Bill Withers conseguiu transformar o simples em algo extraordinário. Quem conhece sabe, It’s a lovely lovely lovely thing to hear. E é apenas como ele realmente é.
E como ele mesmo disse em um outro disco da mesma época, “Lean On Me”, e assim dizemos: Com todo prazer, querido Bill.
My tribute to Bill Withers. I wrote this in 2014, a few months after moving to NYC.